quarta-feira, 24 de julho de 2013

Dueto


"Consta nos astros, nos signos, nos búzios
Eu li num anúncio, eu vi no espelho, tá lá no evangelho, garantem os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
 
Consta nos autos, nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese, eu li num tratado, está computado nos dados oficiais
Serás o meu amor, serás a minha paz
 
Mas se a ciência provar o contrário, e se o calendário nos contrariar
Mas se o destino insistir em nos separar
Danem-se os astros, os autos, os signos, os dogmas
Os búzios, as bulas, anúncios, tratados, ciganas, projetos
Profetas, sinopses, espelhos, conselhos
Se dane o evangelho e todos os orixás
Serás o meu amor, serás a minha paz
 
Consta na pauta, no karma, na carne, passou na novela
Está no seguro, pixaram no muro, mandei fazer um cartaz
Serás o meu amor, serás a minha paz..."

segunda-feira, 22 de julho de 2013


Há dias que eu acordo com uma vontade que não cabe em mim, de tão grande que é. Vontade de um abraço, vontade do seu abraço. Nunca dei muita atenção para abraços, não que eu não gostasse, muito pelo contrário, mas depois de você o abraço tornou-se uma das melhores coisas do mundo, aí que está, eu não havia – ainda – encontrado quem me abraçasse com tanto carinho e proteção, que me fizesse esquecer o mundo. Às vezes, é disso que preciso, esquecer o mundo. Esquecer a correria do dia-a-dia, todos os problemas. E fazer dos seus braços o meu porto-seguro, o meu abrigo, a minha morada. É em seus braços que eu me acalmo, que a respiração desacelera, que eu me sinto seguro, que eu me sinto feliz. Mas, não é só nos momentos tristes e angustiantes que eu quero seus braços, quero um abraço para poder dividir a felicidade que eu estou sentindo, quero o abraço para matar a saudade que me martirizou o dia todo. Esses dias de vontade louca, eu quase que não me aguento. Olho no relógio a cada cinco minutos e rezo para que o tempo voe, para que eu possa te ver o mais rápido possível. Aí quando nos encontramos, não preciso de mais nada, nem palavras, nem beijo, basta o abraço. Você me acolhe, me protege e cuida de mim em seus braços. Eu me aninho neles. O abraço é transmissão de carinho, de amor, de coisas boas. O abraço muda meu humor, muda meu dia. Me abraça, amor?
Querido dente-de-leão,
será que, às vezes, a gente vai com tanta pressa ao encontro de alguém que se esquece de se levar junto? Será que o sol, quando é muito forte, faz a sombra chegar primeiro do que a gente? Será que é assim que tudo acaba? Ou nem mesmo começa? Acordei com uma fresta de luz brincando na cama, o sol deitando a sombra das folhas em minhas pálpebras. E era tão bonito e simples ver a luz pintando os móveis de colorido que entendi o fim de um casamento: nenhum amor floresce preso numa casa, sem contemplar, por instantes, a luz de uma tarde… Então, guardei aquela fotografia por dentro dos meus olhos para quando eu olhar você. E você, como sempre, não me responde palavras, não me escreve palavras, mas quando o sol for sumindo, me oferece sorrindo o seu abraço azul.

sexta-feira, 19 de julho de 2013

"Sabe, acho que ninguém vai entender. Ou, se entender, não vai aprovar. Existe em nossa época um paradigma que diz: enquanto você me der carinho e cuidar de mim, eu vou amar você. Então, eu troco o meu amor por um punhado de carinho e boas ações. Isso a gente aprende desde a infância: se você for um bom menino, eu vou lhe dar um chocolate. Parece que ninguém é amado simplesmente pelo que é, por existir no mundo do jeito que for, mas pelo que faz em troca desse amor. E quando alguém, por alguma razão muito íntima, para de dar carinho e corre para bem longe de você? A maioria das pessoas aperta um botão de desliga-amor, acionado pelo medo e sentimentos de abandono, e corre em direção aos braços mais quentinhos. E a história se repete: enquanto você fizer coisas por mim ou for assim eu vou amar você e ficar ao seu lado porque eu tenho de me amar em primeiro lugar. Mas que espécie de amor é esse? Na minha opinião, é um amor que não serve nem a si mesmo e nem ao outro. Eu também tenho medo, dragões aterrorizantes que atacam de quando em quando, mas eu não acredito em nada disso. Quando eu saí de uma importante depressão, eu disse a mim mesmo que o mundo no qual eu acreditava haveria de existir em algum lugar do planeta! Haveria de existir! Nem que este lugar fosse apenas dentro de mim… Mesmo que ele não existisse  mais em canto algum, se eu, pelo menos, pudesse construi-lo em mim, como um templo das coisas mais bonitas que eu acredito, o mundo seria sim bonito e doce, o mundo seria cheio de amor e eu nunca mais ficaria doente. E, nesse mundo, ninguém precisa trocar amor por coisa alguma porque ele brota sozinho entre os dedos da mão e se alimenta do respirar, do contemplar o céu, do fechar os olhos na ventania e abrir os braços antes da chuva. Nesse mundo, as pessoas nunca se abandonam. Elas nunca vão embora porque a gente não foi um bom menino. Ou porque a gente ficou com os braços tão fraquinhos que não consegue mais abraçar e estar perto. Mesmo quando o outro vai embora, a gente não vai. A gente fica e faz um jardim, um banquinho cheio de almofadas coloridas e pede aos passarinhos não sujarem ali porque aquele é o banquinho do nosso amor, o nosso grande amigo. Para que ele saiba que, em qualquer tempo, em qualquer lugar, daqui a quantos anos, não sei, ele pode simplesmente voltar, sem mais explicações, para olhar o céu de mãos dadas. No mundo de cá, as relações se dão na superfície. Eu fico sobre uma pedra no rio e, enquanto você estiver na outra,  saudável, amoroso e alto-astral, nós nos amamos. Se você afundar, eu não mergulho para te dar a mão, eu pulo para outra pedra e começo outra relação superficial. Mas o que pode ser mais arrebatador nesse mundo do que o encontro entre duas pessoas? Para mim, reside aí todo o mistério da vida, a intenção mais genuína de um abraço. Encontrar alguém para encostar a ponta dos dedos no fundo do rio - é o máximo de encontro que pode existir, não mais que isso, nem mesmo no sexo. Encostar a ponta dos dedos no fundo do rio. E isso não é nada fácil, porque existem os dragões do abandono querendo, a todo instante, abocanhar os nossos braços e o nosso juízo. Mas se eu não atravessar isso agora, a minha arte será uma grande mentira, as minhas histórias de amor serão todas mentiras, o meu livrinho será uma grande mentira porque neles o que impera mais que tudo é a lealdade, feito um Sancho Pança atrás do seu louco Dom Quixote, é a certeza de existir um lugar, em algum canto do mundo, onde a gente é acolhido por um grande amigo. É por isso que eu tenho de ir. E porque eu não quero passar a minha existência pulando de pedra em pedra, tomando atalhos de relações humanas. Eu vou mergulhar com o meu amigo, ainda que eu tenha de ficar em silêncio, a cem metros de distância. Eu e o meu boneco de infância, porque no meu mundo a gente não abandona sequer os bonecos que foram nossos amigos um dia. Agora em silêncio, tentando ensinar dragões a nadar."

sábado, 6 de outubro de 2012

Indagações I


Hoje, ao abrir os olhos, me fiz a seguinte pergunta: — o que fazer com o amor preso aqui dentro?  Pensei, mas não tive resposta. A mente é séria demais e não foi capaz de satisfazer-me. 
Mas o coração, disse: — Você pode dividir com a vovó, que fica sentada na velha cadeira de balanço, à espera de um abraço no fim do dia. Pode dar ao cachorro, que, sem entender os motivos que sua dona tem para sair de casa, fica deitado no tapete da sala, fitando o vidro da porta, esperando o retorno daquela que o faz rodopiar de alegria. Pode repartir entre as crianças da vizinha que, num dia de calor, sentam na porta da sua casa para brincar de carrinho e acariciar as raízes daquela velha árvore que te viu crescer. Pode deixar de dormir nas tardes de quarta-feira, para cortar os legumes e preparar a deliciosa sopa, que serve de alimento aos seus irmãos necessitados. Pode oferecer as tulipas, orquídeas, cactos, begônias, girassóis, bonsais e trevos de quatro folhas que alegram o seu jardim, deslizando a ponta dos dedos molhados sobre a terra macia, sentindo o silêncio das sementes. Pode oferecer ao que está impaciente. Mesmo que não tenha nada a dizer, pode ouvir ou ainda oferecer seu ombro amigo ou dar as mãos para caminhar. É possível ainda, dar amor a um livro, sabendo ouvir as sílabas poéticas que ele é capaz de sussurrar. Para isso, basta passar as frágeis páginas devagar, não deixando que o barulho delas seja maior que o sussurro do livro.
— E se o amor acabar? Disse eu.
Sem delongas, o coração respondeu que se faltar amor, é só observar as borboletas e as bolhas de sabão, que, segundo uma velha senhora, são os que mais entendem de felicidade nesse mundo; na certa saberão me dizer onde há mais amor. E tem também o dente de leão, com seu abraço-apertado-estático-infinito, disse o coração azul, risonho... 


segunda-feira, 16 de julho de 2012



Voltando pra casa do serviço em passos apertados, com uma chuva fina, as mãos congeladas no fundo do bolso e nas orelhas os velhos fones, olho pra luz amarela do poste. Como é bonito ver os pingos fracos dançando com o vento. É poético. Tudo muda quando começa a nossa música naquela praça antiga; imagino que estou na cena de um filme e tento atuar melhor. O ritmo do coração e dos passos mudam, os olhos se fecham no refrão e nem sei mais onde estou.

sábado, 19 de maio de 2012